INTERROGAÇÃO
Contemplo a noite: a
cúpula estrelada
do firmamento sobre
mim palpita;
meu olhar, que a
interroga, embalde fita
o olhar dos astros,
que não veem nada:
- Nessa amplitude
lôbrega e infinita
que inteligência ou
força inominada
numa elipse traçou a
vossa estrada,
estrelas de ouro, que
o mistério habita?
Dizei-me se,
transpondo a imensidade,
alguma coisa a vós
minha alma prende,
um vínculo de amor ou
de verdade.
Dizei-me o fim da
nossa vida agora:
para que serve a luz
que em vós resplende,
e a oculta mágoa que
em meu seio mora?...
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FRACOS
Fracos, odeio a
inércia e detesto a fraqueza.
Prefiro a mão que
esmaga ou que vibra o punhal
À doce e inconsciente
e nefasta moleza,
Que é para a alma do
forte um veneno mortal.
Como de encontro à
costa, em ondas remansadas
Chora o mar, ou se
atira em bravos vagalhões,
Assim de encontro a
vós, almas adormentadas,
Fremem de ódio e de
amor os nossos corações.
Almas fracas, fugindo
à aspereza das lides,
Sem um esforço para
às correntes opor,
Pelo rio do tempo
arrebatadas ides,
Desta ou daquela vaga
a boiar ao sabor.
Que vos importa a vós
a agonia da luta,
A ânsia de possuir, o
infinito aspirar?
Que vos importa a vós
a decepção que enluta,
Se não sabeis querer,
nem sabeis adorar?!
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ÚLTIMA PÁGINA
Antes de mergulhar no
silêncio da morte,
Ou da idade sentir a
fraqueza e o torpor,
Eu quisera lançar,
num supremo transporte,
Meu grito de revolta
e meu grito de horror.
Mas sei que por mais
forre e por mais estridente
Que ela corra através
do infinito, até vós,
Ó céus, que além
brilhais numa paz inclemente,
Nem qual brando rumor
chegará minha voz!
Mas sei que não há
dor que a natureza vença,
E que nunca a fará de
leve estremecer
Na sua eternidade e
sua indiferença
O lamento que vem dum
transitório ser.
Mas sei que sobre a
face execrável da terra,
Onde cada alma sente,
em torno, a solidão,
Esse grito, que a dor
duma existência encerra,
Não irá ressoar em
nenhum coração.
Contudo, num clamor
de suprema energia,
Eu quisera lançar
minha voz! Mas a quem
Enviar esse brado
imenso de agonia,
Se
para o compreender não existe ninguém?!
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