sábado, 8 de setembro de 2018

POESIA – Boris Pasternak (1922)

Tradução de Haroldo de Campos

Poesia, minha voz enlouquece
De juras sobre ti, estertor,
Não pose melíflua de cantor.
Vagão de terceira no verão,
Pareces. Subúrbio e não refrão.

Abafas como Iamskaia: (1) és maio,
Chevardin,(2) o reduto noturno,
Onde nuvens exalam seus guais
E se vão, cada qual por seu turno.

E em dobro, pela trama dos trilhos -
Arrabaldes não são estribilhos, -
Se rojam das estações a casa,
Não cantando, formas hebetadas.

Renovos que a chuva põe nos cachos
Até de manhã, num fio contínuo,
Pingam seus acrósticos do alto
Enquanto lançam bolhas de rimas.

Poesia, quando sob a torneira
Um truísmo é um balde de folha
Vazio, mais o jato se despeja.
Eis o branco da página: jorra!

Notas do tradutor:
Em muitas cidades russas havia um bairro chamado Iamskaia pobre e abafado (1).
Chevardin é o nome da aldeia onde, em 24 de agosto de 1812, se desfechou a campanha de Napoleão contra a Rússia (2)..



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