Nenhum de vós me conhece.
Já morri muitas vezes!
O que vedes em mim,
Depois de tantas mortes sucessivas,
Não sou eu, mas o egresso de mim mesmo,
Por milagre extraordinário
Da vontade consciente de viver.
Rebentei, uma a uma, as paredes do túmulo
Onde haviam tentado sepultar-me,
E apareci ao sol, completamente outro,
Reafirmando aos brados
O desejo de ser.
Minhas ressurreições passaram despercebidas
E ninguém duvidou de que eu fosse eu mesmo.
Não vi como nem para que provar
Aos cegos de nascença a existência da luz.
Meus amigos, eu trouxera do berço
Os estigmas negros do infortúnio.
- "Hás-de ser infeliz! hás-de ser infeliz!" -
Foi o refrão que ouvi durante anos e anos.
E realmente, fui um réprobo da sorte.
Vieram não sei de onde algozes misteriosos,
Arautos de sinistras potestades,
Cada um com seu suplício original.
Havia três bilhões e meio de outras almas
E era tão grande a terra!
Por que seria eu o eleito supremo,
Justamente eu, meus amigos?
Devo calar em meu próprio respeito.
Por mais que vos falasse,
Não teríeis tempo de entender-me.
Gritarei, apesar de tudo,
A plenos pulmões e em tom desafiador:
- Eu sou o liberto! eu sou o liberto!
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