I
Trêmulo, as barbas úmidas de choro,
No fim da vida, o Rei de Tule, um dia
Tirou a taça pela qual bebia
Do cofre onde guardava o seu tesouro.
No fim da vida, o Rei de Tule, um dia
Tirou a taça pela qual bebia
Do cofre onde guardava o seu tesouro.
Era essa a joia de maior valia;
E ante os nobres e gentes do seu foro
Ao mar lançou a linda taça de ouro...
E minutos após, o Rei morria.
E ante os nobres e gentes do seu foro
Ao mar lançou a linda taça de ouro...
E minutos após, o Rei morria.
Se essa taça continha algum arcano,
Hoje somente é o mar quem lho devassa,
Porque ela jaz no fundo do oceano;
Hoje somente é o mar quem lho devassa,
Porque ela jaz no fundo do oceano;
Beija-a, somente, arfando, a água que passa...
E hoje ninguém, lábio nenhum profano
O vinho prova por aquela taça...
E hoje ninguém, lábio nenhum profano
O vinho prova por aquela taça...
II
Quando me chego a ti, por mais que faça
Por conter dentro de mim este alvoroço,
Sinto que sou, sem reino e embora moço,
O Rei de Tule, e tu, a minha taça.
Por conter dentro de mim este alvoroço,
Sinto que sou, sem reino e embora moço,
O Rei de Tule, e tu, a minha taça.
Dos teus lábios ninguém hoje devassa
O fundo senão eu; e enquanto posso,
No mel que eles contêm, os meus adoço...
Mas por fim tudo cansa e tudo passa.
O fundo senão eu; e enquanto posso,
No mel que eles contêm, os meus adoço...
Mas por fim tudo cansa e tudo passa.
Não poder, como o Rei, no fim da vida,
Ante os meus cortesãos, jograis e sábios,
Lançar ao mar também, taça querida,
Ante os meus cortesãos, jograis e sábios,
Lançar ao mar também, taça querida,
Para que ninguém mais sinta os ressábios
Dessa bebida por mim só bebida
Pela taça vermelha dos teus lábios!
Dessa bebida por mim só bebida
Pela taça vermelha dos teus lábios!
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