domingo, 10 de março de 2019

CRIANÇAS DO MUNDO - Rafael Rocha

Nas esquinas e nos semáforos
lá estão todos eles.
Nos esgotos abertos das ruas
vivem todos eles.
Correndo em bandos nas avenidas
lá vão todos eles
vendendo chicletes, chocolates,
a tentar limpar pára-brisas...

O mundo deles não é teu nem meu
Nós os vemos de dentro do carro
ou no jornal nacional global
ou escrevendo na internet
ou aos domingos ou às quartas
ou nos sábados e sextas-feiras.
Em todas noites loucas dessas...

Eu os vejo fumando crack
nos cantos escuros dos prédios
ao sair hipnotizado do cinema
ou de uma livraria com livros
ligados às questões sociais
e quando em casa bebo uma cerveja
escutando um rock ou algo da MPB...

Eu os vejo em fotos de jornais
e lá vão eles em bandos na busca
de um dinheiro para a vida
de um sonho por um espaço
de jornais para serem lençóis...
E mais ninguém olha para eles.
Parecem viver noutra dimensão...

Nem a mulher saindo do templo
rindo pelos pecados apagados.
Livro negro no sovaco olha para eles.
Tem medo de ter pena e sentir
que seu deus é um merda
e que seus evangelhos são vômitos
para encher cofres de ouro...

Lá estão eles e todos vivem
catando o lixo na busca faminta
de um pão duro ou um osso
de chupeta nos lábios e ainda
conseguem sorrir e ter alegria
para brincar nas calçadas sujas
e continuar sendo sempre
meninos e meninas do mundo.

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