terça-feira, 26 de março de 2019

ABISAG – Rainer Maria Rilke

Tradução de Décio Pignatari

1.
Sobre. Servos, seus Braços, Meninice,
Fizeram enlear no Corpo augusto,
De Bruços. Horas mortas, que Velhice!,
não podia reter o Medo e o Susto.

Virava, revirava, (Barba), o Rosto,
a cada Pio de Mocho. E todo o Meio
da noite distendia-se, disposto
a vê-la, Medo, e a envolvê-la, Anseio.

Tremeram as Estrelas, suas iguais,
um Sopro abriu, sagaz, o Cortinado,
(e um Ar insinuou-se perfumado)
atraindo os seus Olhos com Sinais.

Mas ela, ao Rei sombrio, fiel se prende
e, salva da pior das Noites, calma,
na Realeza fria a Pele estende,
virginalmente leve como uma Alma.

2.
Soberano sem Gozo em Dia vazio,
e sem Feitos, o Rei medita
em sua cadelinha favorita.
A Noite vem: arqueia-se no Frio
o Corpo de Abisag. Da Vida os Leitos
são Costas de má Fama, Orla maldita
sob a mortal Constelação dos Peitos.

Mas, versado em Mulher e seus Desejos,
julgava ver, às vezes, (Sobrancelhas),
uma boca suspensa, Flor sem Beijos
– e via: para as suas Lavras velhas
não se inclinava a Haste amorosa, langue.
Insone, via-se Mastim, Orelhas,
Buscando-se nas So(m)bras do seu Sangue.

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