sábado, 25 de maio de 2019

CIDADE – Luiz de Miranda

Que será do homem
que não sustenta
a sua fome
com pão, leite, feijão e ar?

Nada é menos livre
do que a fome
que mata o homem
e nada é mais livre
do que a palavra
que a revela
sob o sal das horas

Que será sob a cidade
do homem
onde não há lugar
sequer às letras noturnas do luar
aos peixes claros da alma

Que será do menino
que vive nele
a idade é mineral
emocional
e o tempo
esse cadáver embarcado
nos enche de mau
cheiro e de morte
a nos salvar

a música da esperança
o eterno pássaro
de nossa herança

Que cidade é esta
que nos cerca de luzes
mas apaga o feltro
de nossa infância
a febre de nossa voz
e deixa-nos ancorados
às esquinas
fotografia de fumaça e neblina

Que homem é este
que não se sustenta
que a fome o come
a partir do nome operário.

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