segunda-feira, 27 de maio de 2019

O POETA E O VINHO – Rafael Rocha

Do livro “Meio a Meio” (1979)

É uma coisa bem própria dos poetas
o beber vinho amargo como a vida
e amar a própria vida como um vinho
na amplidão de todas as mulheres.

É uma coisa muito própria dos poetas
perder as forças em todo amanhecer.
Ouvir o silêncio precisando de escuta
ao sabor do sangue de uvas entre os lábios.
           
Beber a vida é coisa própria de poetas.
Escutar pela saliva um aroma puro
de noites amplas onde o vinho é uma música
que torna um instante de hoje em dois instantes.

O poeta é um bêbado que sorve o hoje.
Não discute os problemas do amanhã.
É uma estrela mergulhada em um cálice
que a morte beberá após a vida.

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