quinta-feira, 2 de maio de 2019

DOZE DE MARÇO – Rafael Rocha

Saí às ruas do Recife
na luzidia semana
do doze de março.
Dei minhas mãos
a algumas mulheres
e bebi com vários homens.
Passei pela ponte Duarte Coelho
e vi guirlandas de novas luzes
e o Capibaribe a luzir
e a gritar para o Beberibe:
- Sou o cão sem plumas do poeta!

Dez horas da noite:
Fiquei a beber ao pé da ponte,
olhando a passagem da lua,
até quando a quietude da boemia
começou a silenciar o lugar.
A noite nada escondeu
a não ser alvoradas futuras
e milhares de sonhos humanos
prestes a começar outro amanhã.

Na Avenida Guararapes
os fantasmas da cidade caminhavam:
Mulheres e crianças e homens da noite
no eterno lazer de labutar.
E a metrópole gritou:
- Eles querem ser livres notívagos
loucos pelo prazer de me amar!

Prazer de amar e viver o Recife
na luz estelar dos seus rios.
O verso se abrindo
para algum novo espaço
sem fim.
Na extinta rua Formosa
onde a Boa Vista
tem novo lugar...
- Ah, queria pegar a maxambomba
e viajar pelos subúrbios!

Zé da Silva
vomitou corações coloridos
ao sair do Bar do Gordo.
Deixou dentro da sarjeta
o coração de Maria José
da Rua das Fronteiras.
Na Rua da Roda
a garçonete Madalena
olhou os clientes,
e ficou apaixonada
pelo livro oceânico
de um poeta dos arrecifes.

No Bar Savoy
o poeta encheu o copo
e emborcou a variedade de álcool.
Olhou para o espaço:
os edifícios giravam
em rodízio de festa.
De repente,
os mais antigos poetas da cidade
saíram das tumbas,
recitando versos
vindos de seus
mergulhos noturnos
no antigo buraco do mar.

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