terça-feira, 6 de março de 2018

DE REPENTE EU QUERO DAR – Luana Muniz




sete pulos
sete mergulhos no Jordão
matar minha sede
da gélida água santa
De repente tenho vontade
de ser víbora, traiçoeira
o cavalo de Tróia
que a sua Odisseia particular
glorificou
De repente quero imolar
um cordeiro em teu nome
usar o sangue pra conceber
o assédio que sempre amei
De repente quero ser
a conflituosa fêmea
a inimiga parasita
o bicho sangrador mensal
que te sacraliza os dias
De repente quero desempenhar
os 12 trabalhos hérculeos
apenas porque a inércia
me parece uma lei
demasiado radical
De repente quero ser fantoche
buginganga sua
seu troféu
vestir meias 3/4
ensaiar o palavreado baixo
geniosa
petulante
e dizer que quero ser movida
como a rainha do xadrez
que você joga todo sábado
De repente quero que morda
o meu fruto proibido
e que a minha nódoa
não te saia da camisa
nem com alvejante caro
De repente quero ser paga
para espalhar a decência
pregar o sermão da montanha
num monte ermo do Líbano
sem macular
seu lençol de linho fino
De repente quero implantar
uma cláusula
na constituição federal
e advogar todos os seus danos
(foram muitos)
De repente quero ser agredida
como um judeu
na alemanha nazista
e quero que o meu crime seja
totalmente inafiançável
De repente sinto um complexo
de Vladimir Putin
me dá ganas
de governar o seu país
ser ditadora déspota tirânica
De repente quero ser stripper
virar título de romance
do idiota que me comeu
De repente eu adoraria ser
fuzilada
em praça pública
com requintes de crueldade
só pro seu zoom óptico
focalizar o meu prazer
De repente o diabo
fala comigo
numa língua ébria e barroca
o dialeto molhado dos anjos
a linguagem dos poetas
e eu tenho vontade de
vender a minha alma
em troca de
três, quatro ou cinco
horas
de fluidos com você

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