sábado, 24 de março de 2018

MULHER ABJETA – Daniela Galdino

Não sei desenhar
não sei fazer conta
só entendo de assustar palavras.

Puxo o verbo pelo rabo
finco dente no dorso.

Quero des-edificar lares
provocar divórcio
entre significante e significado.
Aí será o oco da linguagem varrido pelo avesso.

Encosto a boca na orelha dos vocábulos
e sussurro:
"Deus é a nossa criação necessária".
Eles habitam pântanos de pânicos.
Estão prontos para representar meus terrores.

Eu não espero pelo dia
em que o meu nome flutuará
nas páginas de uma hagiografia.

Não sei qual evangelho rege
as impurezas da minha arte.

Eu transbordo excrescências,
dúvidas, luminosidades.
E... só entendo de assustar palavras.

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