Tradução
Antônio Miranda
Acaso essa mulher
- creio tê-la visto sempre -,
que me olha do
meu modo
desde aquele
imenso espelho,
que ostenta meu
vestido azul
e leva este lenço
de cor dando
voltas
em ondas pelos
ombros
- parecia mais
contente instantes atrás -,
não sou eu.
É possível
duvidar dos espelhos?
E que da calórica
e suas leis?
E que das imagens
sensatas?
Anos que levo
mirando-me em seus rostos,
duvidando
seriamente de sua fidelidade.
Anteontem o busto
de Ifigênia, filha de Agamenon,
Rei de Micenas e
de Argos,
nesta manhã,
Joana, embandeirada e resoluta,
Virginia Woolf de
tarde, pasmada de mar,
amamentando
crustáceos.
Agora, quem se
atreverá a dizer-me
que essa mulher
aqui diante
e senta frente ao
espelho,
sou eu, setenta
vezes eu,
sem mirar-se
antes nele?
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