sábado, 16 de novembro de 2019

FLOR IMEDIATA – Adalberto de Queiroz

No quarto de hotel, ela
passeia sua nudez
como quem rega um jardim;
e eu nada vejo que não floresça.

Do estreito triângulo ao limite
dos seios, sugo a paixão, flor em fogo
brando, ao poeta consumindo.

Filha e irmão, parceiro e gueixa,
dividimos a companhia do 906,
em projetos de ontem, espinhos
futuros - flor imediata.

Anima divina, mãe, pitonisa e maga
decifra-me os atos, antes que tarde:
- Na ampulheta do corpo o tempo
se esgota célere e o prazer escorre:
areia velocíssima.

E, num segundo, vadeamos o espaço
de crianças solitárias, com medo da cidade,
em vário instante transportados
ao reino da primavera
por faunos e musas visitados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário