sexta-feira, 22 de novembro de 2019

INEVITÁVEL – Maria Giulia Pinheiro

Ia acontecer, eu sei.
Só não achei que fosse
tão agora.

Pensei em você o dia todo,
falei de você,
como de costume.

Quase por encanto,
adormeci
e foi como se um
homem alto, forte e destemido
me soprasse os olhos
e tirasse deles
toda a areia que havia.
(A gente sabe que areia nos olhos,
no fundo,
é mais incômodo
do que prazer,
não sabe?)
Quando acordei,
deu vontade de ligar para
os ex-namoradinhos e saber sobre suas
sextas à noite
e às ex-namoradinhas sobre os domingos de manhã.
Deu uma sede de cerveja,
tocou música alegre e,
– vê se pode -,
dancei.

Quando percebi,
estava fazendo piada com quem não conhecia direito,
pensando nas guerras pra lutar,
nas camas pra dormir,
– acho que perdoei só para que não perdurasse –
e depois me perdi nos meus pensamentos
porque minhas horas voltaram a ficar tão interessantes
que não há mais o que não é presente.

E é tanta coisa pra fazer
e eu agora tão cheia de
mais tempo,
mais espaço,
mais vontade,
mais gasolina,
mais eu.
Sabia que ia acontecer,
mas não achei que
tão agora.

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