quarta-feira, 14 de outubro de 2020

“MILAGRES” – Adelmar Tavares

 

Aquela praia linda,
De "Milagres" plantada à beira-mar de Olinda,
Ao pôr do sol, é como um sonho que se esfuma...
Como um lençol de bruma
Estendida às alvíssimas areias,
- Ninho branco de ninfas e sereias...
Fica entre coqueirais, a igreja pequenina,
Alva, como uma lágrima do céu!
Como uma noiva de capela e véu,
Que estivesse a esperar
O noivo que se foi para não mais voltar!...

Pelas tardes serenas,
Em surdina,
Passa um rumor de penas...
São elas - são as tristes andorinhas,
Que vão falar de amores marinheiros
E de fadas marinhas,
Aninhadas às folhas dos coqueiros.
O sino tange. O som do sino é como um ai
Que pela praia vai
A se perder... Do alto da tarde desce...
Qualquer coisa de prece...
- são as aves marinhas...
É a canção outonal dos jangadeiros,
Que levaram assim... dias inteiros
de pescarias...

Minha história de amor ficou também contigo,
Branco recanto amigo;
Na água do mar, na luz do sol, na voz do vento,
Hás de sentir que está meu pensamento.
Ninguém te entende mais do que a minha alma,
Que em sonhos, noite calma,
Como um fantasma errante,
Vai te beijar distante...

Agora és muito linda...
Alva praia de Olinda,
Coalhado todo o mar de vigas e batéis!...
- Mar que escravo de ti, vem te beijar os pés!
- “Milagres” - que é que tem teus coqueirais sombrios
Que estranhas emoções ao pôr do sol revelas!?
Quanta esperança vem no fumo dos navios!...
Quanta saudade vai no côncavo das velas!...

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