quinta-feira, 29 de outubro de 2020

QUASE UM MODIGLIANI – Geraldino Brasil

 

Cabeça e pescoço
com um ovoide e um cilindro
simplesmente faço.
E para a boca sem sorriso basta leve
traço e à maneira de um anzol
o nariz comprido e fino
de quem não enche plenamente o peito
de ar de um claro sol
de parque para menino.

Depois recurvo
o cilindro e inclino
o ovoide e eis pensativo
e triste como um velho de olhar turvo
meu pálido menino de blusão
azul e ainda palpitante
coração, que é como
só imagino e crio
coração de menino.

Faltam os olhos e vejo
que se longo nariz e boca sem sorriso
não traçasse
nem cabeça sobre o longo
pescoço inclinasse,
fora preciso só o olhar
de menino sentado em pesada cadeira,
mãos se prendendo como siamesas,
espiando a manhã que passou
sem levar ao parque todos os meninos.

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