terça-feira, 27 de outubro de 2020

POEMA PEDREGOSO – Montez Magno

 

a João Cabral de Melo Neto
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O que diz do verso o seu reverso,
áspero duplo na véspera do pulo
cabral nos cortes desertos da caatinga
é igual ao que se diz do seixo
roliço e uniforme no trajeto
que faz do rio ao seu local
de repouso, dormida provisória.
O que se diz do rio é o mesmo fecho
varal que se desdobra na restinga
sóbria, solar e promissória.
O solo sofre e cospe a pedra que demora.
Se os rios correm simples e ausentes
sem cuidados com quem está presente
a nós caberá não seguir tal exemplo
dizendo: o que pensamos são águas de um momento
fugaz, transitórias como o próprio tempo.
Por isso há de se ver que os rios correm simplesmente
sem notar que alguém está às suas margens
e as águas que passaram um dia, anônimas e silentes
não voltarão jamais do leito permanente
como nós que passamos uma vez somente
pela vida e a perdemos para sempre.

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