sábado, 3 de outubro de 2020

O OURO DA RUA – Sílvia Rubião

 

Quando vai alto o estio
e o outono se impõe
assolado em ventos
tudo se revela definitivo e inútil

Tempo de deitar os fardos
percorrer a antiga rota
retomar as pegadas
lá onde o ar respira mangas e magnólias
as cigarras enchem as tardes de lamento

Tempo de subir a serra recortada no azul
revolver o musgo e a terra
reencontrar a dupla fonte de meu rio
lá onde se afundam os poentes
é se ergue a velha casa cor de rosa queimado

Tempo de ver
réguas de luz nas venezianas verdes
a mesa posta
vozes de pranto e riso
pedras a rolar o ouro da rua

Lá onde o meu cálice brilha e não há respostas

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