domingo, 25 de outubro de 2020

SAPATEADO DO SAPATO PRETO - Alice Sueli Dantas (Ecila Yleus)

 

Desperte o tempo e fale dos segundos,
Reencontre faces no espelho da sala,
Recolha encontros na velha gaveta do quarto,
Rasgue os guardados inúteis da memória.

Tem salto o teu sapato preto,
Tem laços de fita o teu cabelo,
Tem grude a parede do tempo,
Uma fronteira que desvia a verdade.

Rachados estão os asfaltos das ruas,
Tem laços o teu sapato preto!
Têm véus os fios dos teus cabelos,
Tem um olhar pregado no chão,
Vestes coloridas induzindo à paixão.

Reboque a esperança e corra pelos trilhos,
O dia acorda os gestos nas calçadas sem visgo,
Teu lábio aberto pede o azul,
Mudou todo o cenário do nosso quadro nu.

Têm pratos na praça da cidade,
Têm mãos que acanham os covardes,
Têm mães de leite que alimentam a nação,
Tem no fim da noite o barulho do trovão.

Notícias acendem a cidade, malícia,
Um cão faminto a me esperar, carícia.
Um gato angorá a lambuzar a sorte na tv...
Tem sapateado nos campos elísios.

No sapateado do sapato preto,
Tem o sapateado dos camponeses,
Tem a rima do coração do poeta
Na cadência do lápis, nos beijos das letras.

Tem o toque do tambor da nação ametista
E um coração sambista que chora, que ri
Que grita, toda esse magia que é vida,
No tablado sapateado pela história.

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