segunda-feira, 26 de abril de 2021

CERIMÓNIA FUNESTA – Fátima Maldonado

 

O corpo não responde
às vozes de comando,
como um cão estropiado
já desdenha os apelos
os antigos convites
às funestas moradas,
esqueceu-se do ponto
vai olvidando senhas
os códigos das grutas
acumulando lixos
as servidões austeras
diluem-se num canto
o corpo não atende chamadas
não estremece ao ruído da chave
não suporta
qualquer intromissão
secou num aterro,
os restos à vista
a memória escava
da lembrança os rastros
avidamente suga
de tal fausto os ossos,
de tão vitais cerimônias
nos tão secretos barcos
mesmo o pouco que resta
ainda se mastiga.

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