sexta-feira, 18 de maio de 2018

SONETO DA PALAVRA NUA - Carla Nobre

Quero para minha poesia
Todas as palavras nojentas
As obscuras, as ambíguas
Uma linguagem piolhenta

Não me envergonho das minhas escolhas
Minha palavra é minha pepita
Catarro, mentira, dor, sangue
Suvaco, urubus, bruxaria, bauxita

Todas as palavras são bem vindas
E com elas as penas, a moela, as tripas
E todos os seus sentimentos e suas histórias

Das mais tristes às mais lindas
Fico com o verbo parir
E toda a sua memória

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