quarta-feira, 2 de maio de 2018

ARTE – Zeno Cardoso

Tu estás no meu sangue. E não posso olvidar-te.
Tenho ódio de ti, e no entanto te adoro.
O teu olhar de fogo eu sinto em toda parte
pela terra gelada onde em degredo eu moro.

És tênue como a luz. Em vão tento apertar-te
nos meus braços vazios. E se tu vens, imploro
que te afastes de mim. Mas não posso deixar-te
porque estás no meu ser, clarão de meteoro!

És coveira piedosa e plantas nas feridas
que costumas abrir no âmago das vidas
a semente de luz que diviniza o pranto.

És brancura lirial divinizando o mangue,
és vampiro infernal, e bebes o meu sangue,
e por isso te odeio e te idolatro tanto.

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