sábado, 7 de dezembro de 2019

OUVE – Gilson Pereira de Araujo

Haverá sempre um ouvido a ouvir
As queixas que deixas a preencher o vazio.
Não serão vãos teus lamentos, perdidos
Na distância que te afasta de quem te quer ouvir.
Preencherão o espaço, invisível aos olhos
Que se alegram no que se dissipa à flor dos lábios,
Mas persistem naqueles que enxergam almas
Nas vozes que galopeiam os sentimentos a vagar.

Dói-me tua ausência, que se firma a cada dia,
A desenganar-me da esperança que se oferece
Sem que se faça real, do sonho que alimento,
O passado que amo e que presente quero.
Ouvidos ouvem os gemidos de minh’alma,
Como se nada fosse dito no silêncio que alimento.
Parece-me vão o sentimento sentido em teu louvor.
E, desejo o silêncio que se deseja por eterno.

O caminho, inevitavelmente, só estreita e encurta
E o passado é lembrança que não se goza estando só.
Acompanham-me passos de um caminho sem começo
Que não me acompanham nem me causam tropeço,
Seguem a mesma trilha sem que me mostre o rumo,
E, assim, sigo insano em permanente prumo.
Ouvidos ouvem, dessa dor, inerte, o vão lamento
Sem que o coração sinta a causa do sentimento.

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