segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

DESTERRO – Ferreira Itajubá, ou Manuel Virgílio Ferreira

Saio do teu amor. Quantos reveses
No desterro terei! Quantos ressábios!
Bendito esse passado de dez meses
Em que vivi cantando nos teus lábios...

Bendito esse passado que não vive.
Da terra ao céu jamais hei de esquecê-lo;
Noites nunca hei de ter como já tive,
Na escuridão polar do teu cabelo.

Tenho pena de ti que estás solteira.
E quanto outra vez voltar a lua nova,
Hás de chorar debaixo da mangueira,
Que a primavera quando vem renova...

Quando for o céu pálido manto,
Por noites aromais de lua cheia,
Na mesma terra que me enxuga o pranto
Procurarás meu rastro sobre a areia...

Saio do teu regaço embalsamado,
Lacrimoso do mel do teu sorriso,
Como quem sai da noite do pecado,
Como Adão do Paraíso.

Na alma do triste viajor peregrino
Tua alma ficará de tenda em tenda
Como o rosto do pálido Rabino
No linho sacrossanto da legenda.

Tardes de luto aquelas que passarem.
Depois das tardes frescas que tivemos,
Quando os rudes barqueiros modularem
Canções alegres mergulhando os remos.

Quando a colheita começar das rosas,
Roxo o veludo aparecer das uvas,
Quando cair das nuvens invernosas
O neblineiro das primeiras chuvas,

Evocarás o tempo que não vive,
O tempo que jamais hei de esquecê-lo
Todas as noites calmas que já tive
Na escuridão polar do teu cabelo.

Quando eu voltar para estancar as mágoas
Antes que cesse o peso das fadigas,
Correi jangadas que boiais nas águas,
Cantai, marujos, quero ouvir cantigas...

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