quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

VIAGEM – Nuno Judice

Há olhos que só olham o sonho; e, quando
o sonho se dissipa, ficam cegos.

Há pontes por onde não se passa, no inverno,
embora ninguém as guarde: pontes
sem arcos, abstractas como um arco-íris
e frias como a chuva da madrugada.

Um campo de erva que amadurece;
o feitiço fútil dos faróis quando a manhã
limpa as últimas névoas;
um bater de pálpebras como asas:

imagens que lembro

e me restituem os olhos
com que avisto a entrada da cidade.

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