Escuto na palavra
a festa do silêncio.
Tudo está no seu
sítio. As aparências apagaram-se.
As coisas vacilam
tão próximas de si mesmas.
Concentram-se,
dilatam-se de ondas silenciosas.
É o vazio ou o
cimo? É um pomar de espuma.
Uma criança brinca
nas dunas, o tempo acaricia,
o ar prolonga. A
brancura é o caminho.
Surpresa e não
surpresa: a simples respiração.
Relações,
variações, nada mais. Nada se cria.
Vamos e vimos.
Algo inunda, incendeia, recomeça.
Nada é inacessível
no silêncio ou no poema.
É aqui a abóbada
transparente, o vento principia.
No centro do dia
há uma fonte de água clara.
Se digo árvore a
árvore em mim respira.
Vivo na delícia
nua da inocência aberta.
- António Ramos Rosa, em
“Volante Verde”, 1986.
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