quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

O INCÊNDIO - André Pieyre de Mandiargues

Tradução de William Zeytounlian

O que vais então buscar no incêndio
Atrás dos vapores de esplendor barroco
Pelo segredo de um escadario roto
Estrangulado de heras escarlates?

Que voto fez-te empurrar porta ardente
Face santa de fogo e cinzas
Ao limite de mundo triste
Silêncio deterioração fingimento?

Diante de ti agora só há
Diamantes e rubis que brincam na poeira
Só gesso recaído sobre o chão de mármore
Com estátuas brancas as armas
As mãos de vidro os vasos cheios de lágrimas
O preto de velório e as rosas passadas
Embaixo de muros caducos

Vem uma dama deslumbrante e fúnebre
Logo aparecida logo desaparecida logo reaparecida
Logo mais nua ainda
Que é como a sombra de um desolar.
Nua em sangue e negra
Uma faísca em seu cabelo desfeito
Rubra como um craveiro que encravava a fuligem.

Calcando aos pés as pedras
O ouro e a prata o fragor do cristal
Indiferente à opulência ou à ruína
Na beleza de uma hora catastrófica.

E vais achá-la talvez boa atriz
A gigante que se estende com tranquilidade
Sobre a calçada como sobre navalha
Enquanto em volta explode e se dispersa
O louco luxo de seu teatro de sempre
Que mil línguas engolem.

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