quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

MÁSCARA DE ALGUM DEUS – Blanca Varela

Frente a mim esse rosto lunar.
Nariz de prata, pássaros na frente.

Pássaros na frente?

E logo há vermelho
e tudo o que a terra esquece.
Umidade com poderes de fogo
florescendo por trás dos negros cílios.
Um rosto na parede.
Detrás do muro, além de toda vontade,
mais longe ainda que olhar e calar:
o quê?

Sempre há algo a romper, abolir ou temer?
E do outro lado? Ao contrário?

Voa a mão, nasce a linha,
vibrante destino, negro destino.
Por um instante a melodia é clara,
parece eterna a tarde,
puríssima a sombra do céu.

Volto outra vez. Pergunto.
Talvez esse silêncio diga algo,
é uma imensa letra que nos nomeia e contém
em seu ar profundo.
Talvez a morte detrás desse sorriso
seja amor, um gigantesco amor
em cujo centro ardemos.

Talvez o outro lado exista
e seja também o olhar
e tudo isto seja o outro
e aquilo isto
e sejamos uma forma que muda com a luz
até ser só luz, só sombra.

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