quarta-feira, 31 de março de 2021

EXPLOSÃO – Alexandre Santos

 

Sem ter como comprar,
andou até cansar.
Sem ter como vender,
cantou para esquecer.

No reflexo da vitrine,
entre o maio e o biquini,
a imagem encardida,
embaçada, magra e mal vestida.

Pingos na testa,
chuva e suor sem festa.
Calo na mão,
lembrança remota da boa luta pelo pão.

Desempregado, perdido e mal pago,
Sem ponteiro, sem destino.
Sem sonho, sem ocupação.
Sem fome no coração.

Na roupa, o bolso furado.
No pé, o sapato apertado.
Em casa, um prato vazio.
No peito, um grito tardio.

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