terça-feira, 30 de março de 2021

MISTERIOSA – Vitoriano Palhares

 

Se tens nos olhos o fulgor da aurora,
Mostras na face a palidez da santa.
Não sei por que, tu és Vênus que chora,
Tua linda tristeza prende e espanta.

Por cima do diadema da beleza
Cinge-te a auréola opaca do martírio.
Tens do crepúsculo, acaso, a natureza?
Deverias ser um sol, e és um círio.

Sei que em tua alma se travou a luta
Do amor com o dever, que a vida abala.
Deus te clama do céu: – Mulher, escuta!
E alguém te diz na terra: – Arcanjo, fala!

Aonde irás tão formosa e pensativa,
Fugindo a sina que feriu Suzana?!
O mundo inteiro chama-te: – cativa;
Somente o poeta diz que és soberana.

Lá, onde a escrava derramou seus prantos;
Lá, onde Agar da culpa se redime;
Tu, com teus beijos, pagarás mil cantos;
Alguém, com prantos, lavará teu crime.

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