quarta-feira, 31 de março de 2021

TRÊS POEMAS DE EDIMO GINOT

 

BARGANHA

troquei vida por trocados
como quem troca de carro
mas esquece a rua cheia

troquei alegria por tristeza
como quem troca os sentidos
mas esquece o que o rodeia

troquei sim pelo talvez
como quem troca de óculos
mas não sabe como ver

troquei silêncio por barulho
como quem troca de crença
mas não sabe no que crer

troquei o eu pelo todo
como quem troca de casa
e esquece onde mora

troquei seis por meia dúzia
como quem troca o trocado
pela vida, pela hora
....................................
SEM SAÍDA

vivo partes de um inteiro
de um eu fragmentado
onde sou o marinheiro
e o capitão engalanado
meu próprio coveiro
e o único sepultado

de mil saídas possíveis
que me libertassem agora
só vi labirintos terríveis
onde me perco a toda hora
e vi os meus sonhos plausíveis
dando adeus e indo embora
..............................
CAMINHO

o fio tênue da minha sanidade
pode romper-se a qualquer momento
pois sei que existe a possibilidade
da minha vida não lograr seu intento

por mais reto que seja meu caminho
caminho torto pelas alamedas
queima-me o fogo e fere-me o espinho
ando entre as rosas e as labaredas

quanto ao destino, sei que é incerto
pois o futuro é um ser mutante
eu. caminhante, é que sou deserto
tentando desvendar algum horizonte

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