terça-feira, 13 de maio de 2014

Soneto do buraco do cu - Arthur Rimbaud

Franzida e obscura flor, como um cravo violeta,
Respira, humildemente aninhado na turva
Relva úmida de amor que segue a doce curva
Das nádegas até ao coração da greta.

Filamentos iguais a lágrimas de leite
Choraram sob o vento ingrato que as descarna
E as impele através de coágulos de marna
Para enfim se perder na rampa do deleite.

Meu sonho tanta vez se achegou a essa venta;
Do coito material, minha alma ciumenta
Fez dele um lacrimal e um ninho de gemidos.

É a oliva extasiada e a flauta embaladora,
O tubo pelo qual desce o maná de outrora,
Canaã feminil dos mostos escondidos.

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