a rua no caminho da
minha casa
está
vazia
e eu vindo trôpego
do bar
tento escrever um
poema
que não seja igual
a tantos outros
que seja igual a
mim
e aos caminhos que
trilho
antes de chegar em
casa
acendo um cigarro
penso e penso e
penso
(sou um livre
pensador)
mas penso devagar
sobre os tantos
que não têm
casa ou cigarro ou
cerveja ou mulher
de repente
as luzes da rua se
apagam
a chuva vem
formidável
e eu fico a recordar
as tempestades
mais antigas
de quando as
telhas das casas nessas chuvas
faziam meu pai e
meus avós
ficarem com medo
nesse momento de
quando se volta
de um boteco ou de
um bordel
com uma cerveja
gelada na mão
porra! puta merda!
eu percebo a
falsidade das dezenas de pessoas
que dizem serem
parte de minha vida
e que nos
churrascos das histórias
resolvem se
ajoelhar a um deus do nada
e orar em cima de
uma mesa cheia de comida
dando graças à mentira
em que habitam
enquanto do outro
lado da rua
crianças gemem de
fome...
e eu fico pensando
como meu velho amigo
Charles Bukowski
“nos garotos da rua
e no obtenha tudo que puder
isso é democracia
obtenha tudo que puder
isso é ditadura
basta escravizar
ou destruir os desamparados”.
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