sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

ARRUADO - RAFAEL ROCHA

a rua no caminho da minha casa
está vazia
e eu vindo trôpego do bar
tento escrever um poema
que não seja igual a tantos outros
que seja igual a mim
e aos caminhos que trilho

antes de chegar em casa
acendo um cigarro
penso e penso e penso
(sou um livre pensador)
mas penso devagar
sobre os tantos que não têm
casa ou cigarro ou cerveja ou mulher

de repente
as luzes da rua se apagam
a chuva vem formidável
e eu fico a recordar
as tempestades mais antigas
de quando as telhas das casas nessas chuvas
faziam meu pai e meus avós
ficarem com medo

nesse momento de quando se volta
de um boteco ou de um bordel
com uma cerveja gelada na mão
porra! puta merda!
eu percebo a falsidade das dezenas de pessoas
que dizem serem parte de minha vida

e que nos churrascos das histórias
resolvem se ajoelhar a um deus do nada
e orar em cima de uma mesa cheia de comida
dando graças à mentira em que habitam
enquanto do outro lado da rua
crianças gemem de fome...

e eu fico pensando
como meu velho amigo Charles Bukowski
“nos garotos da rua
e no obtenha tudo que puder
isso é democracia
obtenha tudo que puder
isso é ditadura
basta escravizar
ou destruir os desamparados”.

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