Tradução de Abgar Renault
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Há dias em que somos
tão móveis, tão móveis
tal breve paina solta
aos ventos e ao azar.
Talvez sob outro céu
a glória nos sorria.
Clara, undívaga,
aberta é a vida como um mar.
E há dias em que
somos férteis, e tão férteis
como o campo, em
abril, que treme de paixão:
sob o próvido influxo
de chuva interior
da alma brotam em nós
florestas de ilusão.
E há dias em que nós
— tão sórdidos, tão sórdidos! —
somos a entranha de
obscuro pedernal:
surpreendem-nos da
noite as numerosas lâmpadas,
com moedas rútilas
taxando o Bem e o Mal.
E há noites em que
somos plácidos, tão plácidos...
(meninice do poente!
ah! lagoas de anil!)
que um verso, um
trino, um monte, um pássaro que cruza,
as nossas próprias
penas nos fazem sorrir.
E há dias em que
somos lúbricos, tão lúbricos,
que nos depara em vão
sua carne a mulher;
depois de
acariciarmos um quadril e um seio,
à redondez de um
fruto eis-nos a estremecer...
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