sábado, 4 de janeiro de 2020

REMOINHO – Rafael Rocha

Do livro “Meio a Meio” (1979)
                                                                                                              
Que país é esse?
Que terra é essa?
Que planeta esse
controlando-me
reservando-me
uma pequena réstia
de sua intimidade?

O medo anda e para:
As mãos dadas com a fome, sua irmã
resumida em tão pequeno espaço.
Mas é tão grande!
Até mata!

O sorriso já é aceitação hipócrita
e adulação faminta
e no local onde existem as mãos
tudo está de completo sem espaços
de pouco conteúdo
no enfrentamento da luta
quando não avisada.

Eis que os Josés se protegem.
Eis que eles se assustam.
E certamente eu mesmo
faço uma comédia
cheia de obediência crônica
(mal de velhos tempos).
Esse temor veio do útero

e anda consigo muito aceito
integrando-se na vida
desde o formato fetal.
José se protege como o avestruz
cabeça enfiada no chão de areia
e torna-se pequeno
(podia-se grande)
com os olhos famintos.
Famintos não só de comida
mas da absoluta gaiola aberta.

Sai andando, homem!
Ponha as bandeiras nas ruas!
Talvez em você um jeito heroico tenha gênese
e que do pão e da poesia que te oferto
abra-se uma janela,
depois uma porta,
e você possa sair às ruas
e exclamar:
- Mas quanta luz e eu aqui na escuridão!

(Se ao menos você tivesse a coragem, José!)

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