segunda-feira, 31 de maio de 2021

SUSPENSO – Adriana Lisboa

 

Tenho comigo as asas que perdi
e as cascas que inventei casas
planos milimetricamente traçados
à traça e teia e pó

De troca em pele
troquei de vida comigo mesma
tantas vezes
que agora me restam apenas
as penas em paraquedas
e sangue suspenso
extasiado

Paraquediei os dias
e as horas
e todos os versos que não escrevi
mas ainda não tenho solo sob os pés
ou conforto que me diga
da certeza de não ter certezas

De tudo o que me resta
entre penas e pudores
fiz das traças companhia
e desmoronei em mim todas as casas:
castelos de escárnio e cartas.

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