sexta-feira, 14 de maio de 2021

O VERÃO – José Agostinho Baptista

 

Estás no verão,
num fio de repousada água,
nos espelhos perdidos sobre a duna.
Estás em mim,
nas obscuras algas do meu nome
e à beira do nome pensas:
teria sido fogo, teria sido ouro e todavia é pó,
sepultada rosa do desejo,
um homem entre as mágoas.
És o esplendor do dia,
os metais incandescentes de cada dia.
Deitas-te no azul onde te contemplo
e deitada reconheces
o ardor das maçãs,
as claras noções do pecado.
Ouve a canção dos jovens amantes
nas altas colinas dos meus anos.
Quando me deixas, o sol encerra as suas pérolas,
os rituais que previ.
Uma colmeia explode no sonho,
as palmeiras estão em
ti e inclinam-se.
Bebo, na clausura das tuas fontes,
uma sede antiquíssima.
Doce e cruel é setembro.
Dolorosamente cego, fechado sobre a tua boca.

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