sábado, 1 de maio de 2021

SEMPRE ARRAZOANDO DELA, VIVA E MORTA - Francesco Petrarca

 

Tradução Jorge de Sena
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Oh, vai, verso dolente, à pedra dura
Que o meu caro tesouro em terra esconde,
E chama quem do céu inda responde,
Se bem que o corpo esteja em tumba escura.

Diz-lhe que vivo exausto de amargura,
De navegar sem já saber por onde,
Salvando apenas sua esparsa fronde
De perder-se na morte que se apura,

Sempre arrazoando dela, viva e morta,
Como se viva e já feita imortal,
Para que o mundo a reconheça e ame.

E que lhe praza ser quem me conforta
No instante que se apressa. Venha e, qual
Está no céu, a si me leve e chame.

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