sábado, 3 de julho de 2021

A DEVOLUÇÃO DO TEMPO – OSMAN LINS

 

O trampolim é um braço estendido
com a iminência de um milagre
na extremidade da mão.
Calma,
como a assinalar o princípio da canção
que o seu próprio corpo contará no ar.
a moça estende os braços.
Há um silencio místico:
Estamos em face do sobrenatural.
A água da piscina estremece,
tem frêmitos de folhagem.
Os calcanhares se erguem
– e este sinal tem qualquer coisa de fronte
que se inclina para um beijo.
Numa decisão de suicida,
o corpo iluminado se projeta,
é linha e fuso,
e seta disparada.
Veloz,
estrela libertada que finge itinerário de pássaro,
a flama vertical desaparece.
(Quem me trará de volta a saltadora?)
Torne o sol tornem os relógios,
torne o meu encantamento.
como estrela dissipada,
que refizesse o caminho
da própria rebelião,
a saltadora ressurge.
Afla, leve, a flor das águas,
e pousa no trampolim:
a sombra de um passarinho
que pousasse em minha mão,
não seria leve assim.

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