Tradução de José Paulo Paes
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A escrivaninha negra com entalhes,
os dois candelabros de prata,
o cachimbo vermelho.
Está sentado, quase invisível, na poltrona,
com a janela sempre às suas costas.
Por detrás dos óculos, enormes e cautos,
observa o interlocutor à luz intensa,
ele próprio oculto dentro de suas palavras,
dentro da História,
com personagens seus, distantes,
invulneráveis,
capturando a atenção dos outros
nos delicados revérberos
da safira que traz num dedo,
e alerta sempre para saborear-lhes as
expressões, nos momentos em que os tolos efebos
umedecem os lábios com a língua,
admirativamente.
E ele,
astuto, sôfrego, sensual,
o grande inocente,
entre o sim e o não,
entre o desejo e o remorso,
qual balança na mão de um deus,
ele oscila por inteiro,
enquanto a luz da janela atrás lhe põe na cabeça
uma coroa de absolvição e santidade.
“Se a poesia não for a remissão
– murmura a sós consigo -
não esperemos então misericórdia de ninguém”.
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A escrivaninha negra com entalhes,
os dois candelabros de prata,
o cachimbo vermelho.
Está sentado, quase invisível, na poltrona,
com a janela sempre às suas costas.
Por detrás dos óculos, enormes e cautos,
observa o interlocutor à luz intensa,
ele próprio oculto dentro de suas palavras,
dentro da História,
com personagens seus, distantes,
invulneráveis,
capturando a atenção dos outros
nos delicados revérberos
da safira que traz num dedo,
e alerta sempre para saborear-lhes as
expressões, nos momentos em que os tolos efebos
umedecem os lábios com a língua,
admirativamente.
E ele,
astuto, sôfrego, sensual,
o grande inocente,
entre o sim e o não,
entre o desejo e o remorso,
qual balança na mão de um deus,
ele oscila por inteiro,
enquanto a luz da janela atrás lhe põe na cabeça
uma coroa de absolvição e santidade.
“Se a poesia não for a remissão
– murmura a sós consigo -
não esperemos então misericórdia de ninguém”.
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