sexta-feira, 9 de julho de 2021

RITO DE PASSAGEM - Luiz Antônio Valverde

 

Não esperem por mim.
Ante o sol que me desperta,
não desespero, ou antes
folgo em saber-me que, embora triste,
insista nas coisas que falam ao coração.

Pela manhã
o vento quente vem trazer-me alento,
eu dentro e fora do mundo,
acalento ilusões.

Visitei a cidade
nunca dantes conhecida,
a não ser de passagem,
mirada pela distância
entre eu e a estrela
longínqua
da minha infância.

A cidade esquecida
é a parábola da muralha,
espaços contidos, envelhecidos,
eu diminuto à sombra
fazendo tranças,
povoando traças,
sem abas ou asas, perambulando.

Mas o tempo
vira enfim abril,
ressurge a vida.
Nas primeiras chuvas,
idade da fuga,
e cumpra-se a audácia,
vale mais o que vai além da inércia,
deixa tardar a víbora sonolenta,
silenciosamente entrave.
Pessoas assim não contam
a não ser para nos empurrar
para além de nós,
e aí, já se vai por maio
surfar em águas claras, além,
do pequeno eu, arre injúria.

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