sábado, 10 de julho de 2021

A ROSA GLACIAL – Felipe Garcia de Medeiros

 

A
flor
glacial

derrete
sobre o país

o percussor sombrio

são as sete
pragas do Egito
os sete pecados capitais

a voz do infinito
sagaz,
os
prados de concreto, a paz,
o olho secreto de Hórus,

– a flor fervilha
pelos poros
e a multidão brilha

como o outono deita a névoa
sob suas folhas
e a primavera
rompe
os
botões no espaço

da garganta dos jovens o sopro


corre nos pulmões
embaralha
cadeias
e destrói
em chamas os corações
de palha

na mesa, jogamos cartas e poemas

elevando os grãos e os galhos
às veredas das cinzas
e da ressurreição

urram, tentam impedir,
dão pimenta para Adão –
dão
vinagre para Cristo
crucificam,
bebem, riem nas estripulias,
e o raio cai dos céus
e o nosso
reino
se eleva à Deus

na variedade do milagre, saímos da hipótese

ninguém vê senão grito

“o parâmetro do desamparo
é o agito”

ninguém vê senão atrito
estamos aqui, amigo,
segue
o
rito.

Foucault finge
libelos
no gabinete
infinito
da
sua escrita
e o
esquete
de Maiakóvski
agita
o burguês
na rua

o povo mira os olhos contra o sol

e nos esquecemos de abandonar o corpo
para, no dia
através da noite
surgirmos, anônimos,
como
a brisa de outubro
e atingir
o tamanho

dos demônios da desolação.

Os tempos são frios
e as horas
obtusas
como o templo do sol

é por isso que cada um se levanta do poente
e borra as paredes, os prédios,
os trens,
os ônibus, as luas,

ninguém aqui está contente –

as formigas
se aglomeram nas curvas, mirmidões,
não são peixes,
insetos,
bichos –

(o homem só descansa quando vive
ou após)

são homens que se empilham na cidade
um a um
somos
nós

a perna que se estica no universo
do panteão das estrelas,
para abrir-se
junto
ao líquido cálido
destes tempos,
desta fúria,
dessa flor que se desfaz no ócio das esferas

e gira sobre as sequelas,

doce dínamo dessa candura!

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