Vitimado pelo câncer o poeta faleceu hoje 20/07/2021
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Nos botequins de ontem,
relembro velhos e novos amores
e carrego, por ruas e becos,
o presente e o passado,
simbiose de eterna saudade.
Então, batem as lembranças:
nada mudou no Recife Antigo,
onde poetas, bêbados e vagabundos
vagueiam, à noite, feitos zumbis.
Somos os sonâmbulos da boemia,
animais sedentos de amor e de paixão,
que recolhem pedaços da carne
só para salvar a alma e, assim,
alcançar o perdão.
Nada mudou no Recife Antigo,
onde as faces sofridas se multiplicam
iguais e com sulcos talhados de dor...
Somos os compositores das canções da vida,
os poetas dos poemas passageiros,
os artesãos que juntam trapos e confeccionam,
diuturnamente,
o eterno uniforme do Recife Antigo.
Formamos o cordão dos desesperados,
de alegrias furtivas, de sonhos perdidos
e de vontades saciadas, quase sempre,
em corpos estranhos.
Mas, nada mudou no Recife Antigo,
onde a sinfonia prossegue
até o clarear dos arrecifes.
E, nós, em passos trôpegos,
buscamos a Estrela Guia,
entoando o canto mágico do faz de conta.
Assim, transformamos o nada em tudo
e o imaginário em imaginação,
enquanto a música melosa é ouvida mais forte
nos puteiros do Recife Antigo.
Onde, nada muda...
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