o meu verso fala: 
da fábula do perdido 
dos que uivam de amor 
do vento da nuvem do medo 
dos rascunhos da mosca, da caligrafia, 
de tudo que apenas se esboçou.      
  fala da ferrugem 
que habita o lixo dos quintais 
dos sapatos expostos ao tempo 
do lodo que escorre da noite 
da cárie, da calvície 
de tudo que não existe mais 
  queria pôr no meu verso: 
em lugar da rima a ruga      
o funeral das formigas 
o pavor dos besouros sob o sol 
restos de coisas, restos de nada, réstias, 
nonadas 
  pôr um pouco: 
do carteiro 
do garçom 
do alfaiate 
do livreiro 
  pedaços de gilete 
alfinetes lâmpadas queimadas 
livros riscados pregos 
pinças o fútil o inútil 
o dúctil 
  e fazê-lo abrigo 
para o pote 
o pente a tesoura 
o nariz de Adélia 
os dentes de Fidélia 
  o meu verso guarda 
um cariri na memória 
de tanto que leu Proust 
recorda: 
o som do leite quente no tacho 
o gosto assustado da goteira 
o cheiro das tristezas da terra.
O Grande Ateop nasceu do choque de uma constelação fantástica de treze estrelas lá nos limites insondáveis do universo. O Grande Ateop não teve pai nem mãe e nenhum deus ou deusa para gerar sua vida. Sua idade é de bilhões de anos e seus escritos estão em todos os murais das civilizações humanas universais.
segunda-feira, 14 de junho de 2021
MOTIVOS PARA MEU VERSO – Hildeberto Barbosa Filho
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