quarta-feira, 30 de junho de 2021

PRESENÇAS DE VINICIUS - Carlos Alberto Vogt

 

De tudo à tua ausência, por seres um e múltiplo serei atento
antes, e com tal zelo, e sempre e tanto
que, se te despedaças em vão contra o infinito,
recolhem-se os fragmentos no teu canto
que sempre se inicia e é sempre último.

Por seres, pois, quem me foste um dia,
sombra e luz, azul e branco, carnaval e cinzas,
sugestão de amor, verbo, saciedade e fome,
de repente se me afigura o verso,
o samba, a namorada, o bar,

em que sentado à mesa em boa companhia,
conheci o poeta sem jamais ter visto o homem:
o homem com seus sonhos de quem invejo os pares
inveja dos seus deuses de quem desejo as ninfas.

Na roda de cerveja, entre amigos e dilemas,
como um Castro Alves
na província ardente de seu coração,

recitei retórico a sina do operário
que erguendo a casa de sua liberdade
construía alheia a própria escravidão;
cantei o amor que tive e que não tive
(e por isso dura)
e porque era sábado
ali me apaixonei pela mulher distante,

leve e etérea como uma estrela longe,
feita não só do mangue de carências longas
e amarguras
mas da pureza vaga e sensual do sangue dos poemas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário