sexta-feira, 25 de junho de 2021

MUSEU – Manuel Rui

 

De meus antepassados não recordo
mas invento em cada pedra colocada
em praças por seus braços noutros braços
onde pombas pousam e turistas fazem
souvenirs de sol e manuelinos

E pátrias não conheço

Assisto aos exercícios outonais
da morte sem idade do cremar
olhos na distância por noivas adiadas
e mãos correndo terços de velhas esperando
a morte simplesmente

E deuses não conheço

Não fui navegador
embora me quisessem em vários continentes
em que sempre estive e disse nunca
para que naufragasse minha história com o peso
das grilhetas amarrado aos oceanos

E epitáfios não conheço

O que ergueram meus braços
não está em África
a minha música
não está em África
a minha estatuária
não está em África
idem para o meu marfim
as minhas lanças
os meus diamantes
o meu ouro
idem
idem

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