quinta-feira, 3 de junho de 2021

SARANDI - Lawrence Salaberry

A três quadras do mar, à noite,
Do chalé da praia de Sarandi,
Uma criança podia ouvir ao longe
O clangor gutural do mar e sentir os grãos do sal
Fertilizando tudo. Teu coração batia com ele
Num misto de exaltação, medo e ansiedade....

Como se pudesse ser ali despido de meu corpo,
Como se a qualquer momento eu pudesse ser levado.
(Grato, aliás, por teres me sugado e aterrorizado!)

Ou era como amar, como encontrar
                        [de novo o interrompido?
E à noite, ao colocar os pés no chão adorado,
Ao sentir o cheio sujo das sarjetas, não conseguimos
Nos conter, e fomos até a praia para molhar os pés,
E caminhamos até a barra,
Vimos os últimos botos rompendo a película
Das águas em suave cadência. Era tudo como era.
Teria naquele dia engolido o mar,
                        [ruído, o cheiro – a ambrosia
Que se abre dos aromas acres, dos pólipos morridos,
Como uma auréola infinita.
Parece se abrir na imaginação
Mais do que a infância é longa.
Mas havíamos mudado -
E, não sabia, o vigor do vento,
E do Mar, repercutindo os pulmões taurinos,
Era um interlúdio que ele
Representou magnificamente, antes de se virar

Sem dizer adeus.

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