segunda-feira, 3 de junho de 2019

DOIS SONETOS DE J. G. DE ARAUJO JORGE

VERSOS A MIM MESMO

Anda! Segue a cantar!... Fala aos outros da Vida
livre, e pura, e feliz, e esplêndida, e radiosa!
Luta por teu amor! E a alma em ânsia possuída
segundo por segundo os teus segundos goza!

Que a vida é pura e é boa, e chega a ser formosa
quando pode afinal ser amada e vivida,
- se o dinheiro é a moral, e a força é a lei honrosa,
vive livre e sem leis que a Terra está perdida!

Se falarem de templos, - olha o céu!... se basta!
Se falarem de fé, - adora a terra!... é tua!
E que no teu viver errante e iconoclasta

ergas sempre o teu verbo olímpico e pagão
diante da multidão que vacila e recua
arrastando à hecatombe a civilização!
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À ESPERA

Ela tarda... E e me sinto inquieto, quando
julgo vê-la surgir, num vulto, adiante,
- os lábios frios, trêmula, ofegante,
os seus olhos nos meus, linda, fitando...

O céu desfaz-se em luar... Um vento brando
nas folhagens cicia, acariciante,
enquanto com o olhar terno de amante
fico à sombra da noite perscrutando...

E ela não vem... Aumenta-me a ansiedade...
O segundo que passa e me tortura,
é o segundo sem fim da eternidade...

Mais, eis que ela aparece de repente!...
- E eu feliz, chego a crer que igual ventura
bem valia esperar-se eternamente!...

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