quinta-feira, 13 de junho de 2019

PEDRA – Charles Simic


Insinuar-se em uma pedra:
Esse seria o meu caminho.
Que outro alguém se converta em pomba
Ou ranja com dentes de tigre.
Sinto-me feliz por ser uma pedra.

Vista por fora, a pedra é um enigma:
ninguém sabe como decifrá-la.
Contudo, por dentro deve ser suave e quieta,
mesmo quando uma vaca a pisa com todo o peso,
ou quando uma criança a arremessa num rio;
a pedra imerge lenta, imperturbável
até o fundo do rio,
onde os peixes põem-se a tini-la
para a escutar.

Podem-se ver disparos de chispas
quando se atritam duas pedras.
Assim, lá dentro, talvez não seja escuro.
Talvez haja uma lua brilhando desde algum lugar,
como se por trás de uma colina estivesse –
com luz suficiente para decifrar
os estranhos escritos, as cartas estelares 
nas paredes internas.

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