quarta-feira, 5 de junho de 2019

NÃO É O MORTO QUEM PROVOCA O ESTUPOR - Reinaldo Arenas

Tradução de Jorge Melícias

Não é o morto quem provoca o estupor
é a surpresa de ver como olvidamos
sua própria morte, nossa grande dor.
Fica o morto, nós embora vamos.

Não é o morto, não, quem se retira.
Somos nós que vamos debatendo,
sobre o cadáver que, mudo, nos mira,
a possibilidade de seguir sobrevivendo.

Quando na memória ao morto divisamos
(jogos do tempo, macabro despejador)
não é pois ao morto a quem estamos vendo:

Somos nós que, tétricos, ficamos
ao ver como olhamos sem horror
ao que no grande horror vai apodrecendo.

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